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Um quarto na Holanda, com vista para o mundo

Um quarto na Holanda, com vista para o mundo

Desde o início queria que a Nós fosse uma editora do mundo.  No sentido de estar em contato com o mundo, em especial com a Europa. Sem saber, meu desejo verbalizado no nosso business plan, como um atributo da marca, virou uma profecia. Muito tem nos acontecido fora do território brasileiro e começo a pensar que o traçado que vai ficando atrás de nós não é um acaso, mas algo próximo do que costumam chamar de “o espírito do tempo”.

Entre março e abril estivemos na Europa para participar da Primavera Literária Brasileira. Lançamos por lá “Olhar Paris”, “Mentiras” e “O Livro das Aproximações”. Este último, dá uma medida exata do que digo. João Guilhoto, o autor, é português, mora em Frankfurt, publicou no Brasil, e lançou o livro oficialmente em Paris. A literatura é um território sem fronteiras? O lugar onde estamos impacta no destino do que pensamos, sentimos, criamos ou somos?

O próximo lançamento da Nós se desdobra de certa maneira sobre essa questão. Em muitos sentidos, ele amplia o raio de alcance da nossa existência. Primeiro porque abre uma clareira dentro do nosso jovem catálogo por se tratar de um livro de ensaio literário-filosófico. Segundo, porque o tema do livro – um breve tempo da vida do filósofo René Descartes, escrito pelo francês Pierre Bergounioux e traduzido por Gabriel Perissé – toca na questão territorial.

Entre todos os lugares do mundo que poderia escolher para viver e escrever, Descartes escolhe a Holanda, especificamente, Leiden (que por coincidência também estava no roteiro da Primavera Literária de 2016). Mas até chegar a Leiden, Descartes se desloca por vários países da Europa – Itália-Alemanha-França – como Nós, o filósofo perambula em busca de um lugar onde aportar o seu pensamento, sua filosofia, sua literatura. Por que se fixa na Holanda? Isso fica reservado àqueles que lerem o livro.

Como Pierre Bergounioux, o autor, é também um grande escritor, a vida de Descartes é desvelada com tintas novelescas, a reverberar o Dom Quixote, escrito poucos anos antes. Com passagens deliciosas como a que narra um imaginário encontro entre Proust e Joyce. É impossível não se apaixonar pelo personagem Descartes. Viajamos junto com sua ‘mania itinerante’ pela Itália, pela França, pela Alemanha, admirando sua impetuosidade de conhecer o livro do mundo, até estacar, num quarto na Holanda, onde formulará sua síntese máxima “Penso, logo existo”.  Quanto a Nós, seguimos. Andantes, em busca de um lugar onde a literatura seja, no real, um quarto, com vista para o mundo.