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Os trabalhos e os dias

Os trabalhos e os dias

Quando comecei a escrever este blog, queria postar um texto todo dia 1 do mês. A minha ideia era fazer caber no calendário a exatidão dos dias e dos gestos do fazer literário cotidiano. Quando a Nós nasceu, planejei milimetricamente publicar um livro por mês e divulgar e trabalhar o livro sem que um atropelasse o outro. Mas é claro que “a vida é o que nos acontece enquanto estamos fazendo outros planos”.

De modo que o meu calendário de pedra se esfarelou e agora tudo se mistura na poeira dos dias. Não publiquei nada no primeiro dia de junho, entre outras coisas, porque os livros dos meses anteriores foram acontecendo num ritmo improvável e junho ficou pequeno pra tantos acontecimentos. Daqui a alguns dias, começa o nosso Outono Literário Brasileiro, um sonho arquitetado pelo Leonardo Tonus, a Mirna Queiroz, o Alexandre Staut e eu.

No nosso grupo de whatsup, brincávamos que estávamos alterando as estações do ano e criando um calendário mágico, no qual depois da Primavera vem o Outono. Como se não bastasse, aqui em São Paulo vivemos um outono-invernal, o mais gelado de todos os tempos, com temperaturas de um dígito. E nosso Outono Literário Brasileiro, a rigor, chega já quando o inverno desponta.

Portanto, não será mais um grande susto se o inverno virar outono com temperaturas mais agradáveis e sol quente queimando a pele. É que o mundo está em transe, como todos sabemos. E temos, todos, e cada um, que reinventar os tempos da vida e das coisas. Reinventar também é resistir. E nunca essa palavra foi tão importante. Nosso Outono Literário Brasileiro é invenção e resistência, amizade e fé, no livro e na literatura. Sei que parece insensato inventar tanto em tempo de crise, que para os mais céticos pede comedimento e atenção redobrada à realidade. Mas não. Vamos, firmes e decididos e de mãos dadas, mesmo sem saber muito bem o tempo de chegar.

Na Nós, especificamente, este mês ainda trabalhamos Um Quarto na Holanda, livro do francês Pierre Bmergounioux, que saiu em maio. Vamos lançar o Olhar Paris no Brasil, que foi apresentado primeiro em Paris e Berlim, em março e abril.

Aqui, ele terá destaque primeiro em São Paulo, na Blooks Livraria, como parte do Outono Literário Brasileiro, mas logo em seguida, será lançado no Rio de Janeiro, na Maison da França, um espaço lindo de morrer, recém-inaugurado pelo Consulado Francês. E se não fosse suficiente, acabou de chegar da gráfica o primeiro volume da Coleção Grãos: O Discurso da Servidão Voluntária, do Étienne de La Boétie. Um livro essencial, que chega atrasado-no tempo certo, para nos ajudar a refletir sobre autoritarismo, tirania, submissão e relações sociais.

Mas como não posso terminar esse post sem anunciar uma novidade-novidade, queria contar que está chegando na Nós uma nova e linda edição do Vendo Pó…esia, do Rodrigo Ciríaco, que deve ficar pronta em junho-julho. Ele vai estar na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, para falar sobre os Retratos da Leitura no Brasil, de como a formação de novos leitores é muitas vezes uma forma de guerrilha e do quanto este livro exerce uma espécie de encantamento sobre os jovens e vem causando uma pequena revolução nas escolas públicas brasileiras. Vender poesia, em vez de pó. Esfacelar calendários de pedra. Inverter estações do ano. Fazer o impossível pela literatura. Trabalho de heróis e de loucos que insistem em viver de e para os livros, 365 dias por ano, mesmo num país com tão poucos leitores.